O SUICÍDIO NA LITERATURA

Gustavo Ramos de Souza (UEL)

Willian André (UNESPAR)

 

Em O mito de Sísifo (1942), de Albert Camus, o problema do suicídio já é posto em suas palavras inicias: “Só existe um problema filosófico realmente sério: o suicídio. Julgar se a vida vale ou não vale a pena ser vivida é responder à pergunta fundamental da filosofia”. Não se trata, porém, de uma questão de interesse exclusivo da filosofia, pois a sociologia, a psicanálise e a teologia já se debruçaram sobre o tema. Para este simpósio, interessa mormente o suicídio na literatura, isto é, de que maneira a morte voluntária é representada nas obras literárias – em suas possibilidades de expressão e épocas mais diversas –, bem como o modo como exerce fascínio sobre a imaginação criativa. No poema “Homenagem”, do livro As impurezas do branco (1973), Carlos Drummond de Andrade nomeia dez escritores que tiraram a própria vida e, nos versos derradeiros, diz: “e disse apenas alguns/ de tantos que escolheram/ o dia a hora o gesto/ o meio/ a dis-/ solução”. O poema, mais do que catalogar suicidas ilustres, traz à tona tanto a questão da morte voluntária como um imperativo da afirmação da própria liberdade quanto o fato de que o suicídio implica um gesto (uma performance), um meio (um método para tirar a vida) e, acima de tudo, uma solução desesperada ou calculada para enfrentar os impasses da existência. Entre outros aspectos e outros objetos, a influência do suicídio sobre a imaginação criativa é investigada na obra poética de Sylvia Plath por A. Alvarez, em O deus selvagem: um estudo do suicídio (1972). Seguindo a mesma esteira, mas adotando uma abordagem mais psicanalítica, Carvalho (2003) chega a elaborar o conceito de uma poética do suicídio a percorrer os poemas de Plath – que é autora, ainda, do romance A redoma de vidro (1963), uma das mais emblemáticas narrativas do século XX sobre o tema em questão. A mesma influência pode ser verificada, também, na produção dramática de Sarah Kane (suicida, a exemplo de Plath). Da poesia e do teatro à narrativa, temos um rol quase interminável de peças ficcionais que abordam o suicídio, ora tangenciando outras questões principais, ora colocando-o como epicentro temático – contemplando tanto as reações daqueles que são obrigados a conviver com a morte voluntária de alguém próximo quanto o “mundo fechado” (ALVAREZ, 1999) dos suicidas. Há, ainda, obras como o romance Graça infinita (1996), de D. F. Wallace, que constrói um vasto mosaico sobre o assunto, adotando perspectivas diversas: o trauma de dois filhos diante do suicídio do pai; a tentativa de suicídio de uma viciada em drogas como fuga de uma existência insustentável; o ato performático de um suicida excêntrico, minuciosamente planejado para adquirir ares de “espetáculo”. Nesse sentido, o objetivo deste simpósio é reunir reflexões que tomem o objeto literário ou escritores que tratam do suicídio em sua vida/obra, considerando possibilidades de intersecção com outras áreas do conhecimento.

Palavras-chave: suicídio, literatura, interdisciplinaridade.