Sonia Pascolati (UEL)
Marina Stuchi (UEL)
Augusto Boal, em Teatro do oprimido e outras poéticas políticas, defende que todo teatro é político porque toda atividade humana é política. Como atividade humana e política, o teatro pode ser tanto instrumento de controle – como na Idade Média, quando a Igreja quer mantê-lo sob seu domínio ou nos primórdios da colonização brasileira por Portugal, quando é uma das mais fortes armas ideológicas da Companhia de Jesus em seu esforço de catequização – quanto força de resistência ao se abrir à discussão de questões sociais, econômicas e políticas, constituindo-se como espaço de manifestação de vozes de minorias, demandas populares, denúncias de violência, opressões e exclusões. No século XX, há contextos históricos que propiciam, ou até mesmo exigem, a emergência do elemento político como força motriz da produção dramatúrgica e teatral, tal como a experiência das duas grandes guerras mundiais ou o regime ditatorial brasileiro das décadas de 1960 a 1980. Neste minicurso, propomos a discussão da dimensão política do teatro tanto em seus aspectos temáticos (luta de classes, críticas ao sistema capitalista, diversas formas de violência concreta e simbólica, demandas do proletariado, variadas formas de exclusão social) quanto formais (fragmentação de ação, tempo e espaço dramáticos; assunção do cidadão comum como personagem central do drama; metateatro e intertexto em sua dimensão autorreflexiva), tomando como ponto de partida obras de Bertolt Brecht (1898-1956) e sua proposta de teatro épico-dialético e de Augusto Boal (1931-2009) e o Teatro do Oprimido, prática teórico-crítica-teatral reconhecida mundialmente. A partir dessas matrizes, discorreremos sobre a presença de elementos políticos na obra de dramaturgos nacionais, com destaque para a) Oswald de Andrade (1890-1954) e sua concepção de antropofagia como atitude política diante de hierarquizações e formas de exercício de poder e controle; b) Nelson Rodrigues (1912-1980) e a representação irônica da hipocrisia da burguesia carioca; c) Plínio Marcos (1935-1999) e o universo marginal e violento habitado pela legião de excluídos a quem ele da voz em sua dramaturgia; d) dramaturgos londrinenses como Nitis Jacon (1935- ), criadora e dramaturgista do grupo Proteu (Projeto de Teatro Experimental Universitário), e Domingos Pellegrini (1949- ), conhecido nacionalmente como prosador, mas cuja dramaturgia é praticamente inédita. O objetivo é demonstrar como, em meio a diferentes opções de criação dramatúrgica e teatral, há convergências formais e temáticas entre os autores destacados.
Palavras-chave: dramaturgia, teatro, política.