MACBETH NO CINEMA: O PROCESSO ADAPTATIVO E AS (RE)LEITURAS

Linda Catarina Gualda (FATEC/Itapetininga)

 

Considerado por muitos críticos aquele que melhor representou o universo concreto, em todos os tempos, William Shakespeare tornou-se o primeiro autor universal. Suas obras, escritas no século XVI, são até os dias atuais largamente adaptadas para teatro, cinema e televisão. Com temas absolutamente humanos e inesgotáveis, como inveja, amor, vingança e ambição, a abrangência de seu legado continua vívido e contextual. O cinema, em particular, já o explorou das mais diversas formas, tanto que é o autor mais filmado de todos os tempos com mais de 420 versões de suas obras  produzidas, sejam fielmente adaptadas, livres adaptações, traduzidas para uma linguagem (e ambientação) mais moderna ou ainda retratadas de forma figurada sem perder, no entanto, as referências inconfundíveis. Nesse contexto, uma de suas obras mais icônicas é Macbeth, escrita entre 1603 e 1607 e considerada a peça maldita de Shakespeare, haja vista que desde seu início temos a sensação de estar dentro de um pesadelo, com bruxas medonhas, relâmpagos, trovões e a anunciada emergência da confusão do mal e do caos. A obra nos mostra os efeitos terríveis que a ambição e a culpa podem ter sobre um homem que apresenta falhas em seu caráter, cuja força vital é manipulada pela esposa e depois por constantes delírios. Shakespeare anuncia que uma vida pautada pelos impulsos, distante da razão, pode provocar graves consequências, num caminho sem volta que culmina em desgraça. De fato, a peça trata de valores (ou da perda deles), do esfacelamento da vida perante um ato ambicioso. Ironicamente, Macbeth percebe que a vida não vale nada quando ele conquista tudo. Isto posto, o minicurso objetiva discutir as relações entre a literatura e o cinema em níveis teóricos e práticos a partir da análise da peça supracitada e cinco de suas muitas traduções fílmicas. Devido a impossibilidade de se estudar as inúmeras leituras cinematográficas de Macbeth, selecionamos as seguintes  produções: Macbeth (1948, Orson Welles, EUA), Trono Manchado de Sangue (1957, Akira Kurosawa, Japão), Macbeth (2006, Geoffrey Wright, Australia), MacBeth: ambição & Guerra (2015, Justin Kurzel, Reino unidoFrança, EUA) e A floresta que se move (2015, Vinícius Coimbra, Brasil). O minicurso objetiva traçar um paralelo entre a obra literária e suas traduções ressaltando os variados contextos de produção, a intenção dos realizadores e o público-alvo. A proposta é criar um espaço de discussão focando o diálogo que se estabelece entre as expressões artísticas literária e fílmica. Como fundamentação teórica, nos embasaremos na Teoria Literária e Cinematográfica, Literatura Comparada e Semiótica para conceituar intertextualidade, tradução intersemiótica, entender as relações entre literatura e cinema e procedimentos de adaptação, bem como aplicar esses conceitos nas análises. Para isso, o minicurso se desdobrará em: 1) a partir de determinadas cenas, analisar as versões fílmicas (hipertexto) e suas relações com o texto de partida (hipotexto), entendendo cada versão como obra independente e uma tradução da peça e 2) verificar de que forma os textos foram transformados, discutindo quais fatores condicionaram tais mudanças (apontar e discutir os procedimentos de adaptação). Ao final do minicurso, pretende-se gerar reflexão acerca das profícuas relações entre a literatura e o cinema, enfatizando as técnicas específicas de linguagem em cada tipo de expressão artística.

Palavras-chave: Shakespeare, literatura e cinema, tradução intersemiótica.