LITERATURA E SUICÍDIO

Gustavo Ramos de Souza (UEL)

Willian André (UNESPAR)

J. Toledo, em seu controverso Dicionário de suicidas ilustres (1999), elencou em forma de verbetes 700 pessoas ilustres – das artes, política e filosofia – que optaram pela morte voluntária, entre as quais muitas ligadas à literatura: Gerárd de Nerval, Antero de Quental, Virginia Woolf, Cesare Pavese, Ernest Hemingway e Yukio Mishima. A questão que se coloca, a partir disso, é: por que o suicídio exerce tanta fascinação sobre a imaginação criativa? É o que A. Alvarez busca responder em O deus selvagem: um estudo do suicídio, ensaio no qual esmiúça a perigosa relação entre literatura e suicídio a partir de autores tão díspares como Thomas Chatterton, Goethe, Dostoiévski, Sylvia Plath, entre outros. Contudo, a Alvarez interessa mais o autor que a obra, ao passo que, neste minicurso, a proposta é compreender, sobretudo, as motivações, os métodos, a performance, a reação dos deixados (CORRÊA, 2012) enquanto ficcionalização, isto é, o suicídio na literatura. Assim, um exemplo oriundo de uma obra literária pode nos servir como premissa para investigar tal relação. Nas páginas derradeiras de Ilusões perdidas, de Honoré de Balzac, o narrador estabelece uma teoria segundo a qual o suicídio é de três naturezas: por desespero, por raciocínio ou como resultado de um último gesto após uma longa enfermidade. Quanto ao primeiro, um exemplo literário notável seria o de Emma Bovary, do romance de Gustave Flaubert, que se mata após ver o seu mundo ruir; em relação ao segundo, o suicida Kirilov de Os demônios, de Dostoiévski, que conduz o seu raciocínio ao absurdo na afirmação da própria morte; por fim, quanto à enfermidade, poderíamos pensar na peça 4.48 Psychosis, de Sarah Kane, que descreve o sofrimento de uma maníaco-depressiva. Evidentemente, a formulação balzaquiana carece de um fundamento mais sólido, uma vez que se apoia no senso comum; no entanto, mesmo a sociologia, a psicologia e a filosofia também não foram capazes de fornecer uma resposta definitiva para o problema da morte voluntária. Talvez a literatura, operando uma síntese entre os diversos saberes (BARTHES, 2013) e sem a pretensão de verdade, logre resultados mais satisfatórios, pois, de certa forma, a morte é a própria condição de possibilidade da literatura (BLANCHOT, 2005; BARTHES, 2004); mais do que isso: o suicídio perpassa tanto a imaginação criativa dos escritores (ALVAREZ, 1999) quanto as representações da autoaniquilação das personagens. Nesse sentido, o nosso objetivo é apresentar um percurso do suicídio na literatura do romantismo até a contemporaneidade, enfatizando a obra de Jean-Jacques Rousseau, dos dadaístas, de Antero de Quental, de Drieu la Rochelle, de Virginia Woolf, de Sylvia Plath, de Cesare Pavese, de William Faulkner, de Antonio di Benedetto, de Thomas Bernhard, de David Foster Wallace, de Sarah Kane, entre outros.

Palavras-chave: Literatura, suicídio, melancolia.