LITERATURA E PERSEGUIÇÃO

Adriana Gonçalves da Silva (UFF)

Daniel Marinho Laks (UFF)

 

Ao longo do século XX, diferentes espaços geopolíticos conviveram com momentos de instabilidade econômica e política que culminaram em distensões do sistema de pensamento liberal e das formas democráticas de organização do Estado. Esses momentos propiciaram campo fértil para produções de modalidades nacionais de superação autoritária dos períodos de crise em diversos países. A instauração de regimes de caráter totalitarista contou, em várias ocasiões, com dispositivos de produção da norma, aparelhos culturais que criavam um sistema de enquadramento ideológico a fim de produzir consenso. De forma complementar à produção do consenso, funcionavam mecanismos de violência punitiva. Nesse sentido, os aparatos ideológicos contavam com o controle dos meios de comunicação, com censura de mídias e espetáculos e com a supressão rigorosa da liberdade de pensamento independente, liberdade de expressão e demais liberdades fundamentais, a partir da instauração de um sistema de policiais, tribunais especiais, perseguições políticas e prisões. A influência da perseguição política sobre a expressão narrativa relaciona-se à necessidade daqueles que sustentam visões heterodoxas de desenvolverem estratégias peculiares de expressão, um dizer apenas nas entrelinhas. A proposta deste simpósio é abrigar trabalhos que debatam sobre a produção literária durante momentos de perseguição política, englobando tanto análises sobre movimentos e obras produzidas nos períodos específicos de resistência ao controle ideológico quanto produções posteriores que retomem essa temática. A proposta estrutura-se a partir de algumas questões fundamentais: Quais as estratégias narrativas utilizadas na publicação literária durante períodos de censura e controle de mídias? Como se organizaram, nos espaços das letras e da cultura, grupos de resistência aos totalitarismos instituídos, sejam eles de caráter nacional ou transnacional? Quais as possibilidades do campo literário como espaço de afirmação de uma memória individual e construção de uma memória coletiva desses períodos?

Palavras-chave: produção literária, perseguições, autoritarismo.