“HÁ DE SER ISSO E NADA MAIS”: IMPASSES NA TRADUÇÃO DO POEMA O CORVO, DE EDGAR ALLAN POE

José Carlos Felix (UNEB)

 

Desde sua publicação, em 29 de janeiro de 1845, o poema O Corvo (The Raven), de Edgar Allan Poe, vem desafiando leitores, críticos literários e tradutores pela sua complexidade tanto formal quanto temática. Ao examinar essa imbricada relação, o tradutor, poeta e crítico Ivo Barroso adverte que “há em ‘O Corvo’ uma imbricada relação entre o conteúdo emotivo e seu suporte estrutural, que qualquer tentativa ou intuito de alterá-lo concorre fatalmente para a sua diluição ou mesmo para a dissolução do encantamento poético causado precisamente por essa combinação” (2000, p. 15). Partindo dessa questão problema, esse minicurso pretende examinar inicialmente tanto os aspectos formais (efeitos de aliteração e jogos de sons em lugares incomuns) quanto seu conteúdo emotivo (o clima soturno com a finalidade de extravasar os sentimentos de perenidade amorosa, de saudade angustiante e cruel fatalismo que constituem os núcleos geradores do pathos, ou da emoção do poema) para, em seguida, traçar um amplo panorama dos vários projetos tradutórios do poema de Poe. Nessa segunda parte do minicurso, apresentaremos uma reflexão crítica acerca da mais tentativas, por vezes bem-sucedidas e algumas outras malogradas de transpor o poema para outras línguas como o francês (Baudelaire, 1853 e Mallarmé, 1888), os quais, a despeito de serem poetas magistrais, se consideram incapazes de traduzir na língua francesa os ritmos, os timbres e os jogos de palavras, optando assim pela prosa. Já na tradição tradutória em língua portuguesa, deslindaremos comparativamente as empreitas tradutórias de Machado de Assis (1883), Fernando Pessoa (1924), Godin da Fonseca (1928), Milton Amado (1943), José Lira (1995) e Jorge Wanderley (1997), dando atenção particular as estratégias formais e saídas encontradas por esses poetas e tradutores aos impasses de aspectos considerados “intraduzíveis” pelos poetas franceses, especialmente no que diz respeito ao lugar da paráfrase e do emprego de técnicas formais características da tradução poética e literária portuguesa e brasileira; ou ainda, por meio de abordagens e correntes teóricas contemporâneas sobre a prática tradutória como a desconstrução. Por fim, trataremos de incursões tradutórias pautadas em uma tonalidade menos reverente ao ritmo, à estrutura e às técnicas empregadas pelo poeta norte-americano e, por assim dizer, mais irreverentes como as paródias de Antônio Tadeu Wojciechowski, Roberto Prado, Marcos Prado e Edilson Del Grassi e a igualmente versão hilária e galhofa de Reynaldo Jardim e Marilu Silveira.

Palavras-chave: O Corvo, projetos tradutórios, Edgar Allan Poe.