DE VÉRTEBRAS QUEBRADAS: LITERATURA CONTEMPORÂNEA

Sandro Adriano da Silva (UNESPAR/USP)

Vagner Camilo (USP)

 

Do ensaio de Agamben advém o empréstimo kitsch que, no título acima, evoca a essência/aparência do contemporâneo, em sua imagem proteica, dinâmica, insubordinável a qualquer explicação totalizante, de cuja tutela o homem do seu tempo – seja na política, nas ciências, nas artes e na literatura – não consegue se eximir. Diz-se que contemporâneo matiza-se pelo kairos, tempo-metáfora saturado de “agoras”, presenteísmo diante do qual a única relação possível é a dialética entre aderência e distanciamento: aderência de olhos vítreos, cegueira não de alheamento, mas de um Tirésias às avessas, que não detém o vaticínio, porque tudo o que se inscreve no devir é sombra e imprevisão; cegueira como exercício de olhar na treva, o “escuro especial”; nele, dilata-se em risco a pupila que interpreta, sua “íntima obscuridade”, sem pretensão de atingir a luz verossímil; ao contrário, “estar-sendo-ter-sido” contemporâneo. No contemporâneo, a partilha do sensível é o atestado de uma produção estética que se coloca como figurações da experiência, incidindo sobre a construção de novas subjetividades que reinterpretam a noção de sublime, que propõem novos regimes de sensibilidade e testemunho histórico, que se instauram sob a deriva conceitual cujas “vértebras quebradas” podem (até quando?) combinar o híbrido e o plural, relaxar fronteiras teóricas, (o que sobrou dos nosso amores?), capaz de exibir a imagem de um pertencimento tensionado, de abertura, de acesso ao destino dos discursos, aos sintomas dos textos, seus mitologemas, o que de resiliência política prolifera, a multiplicidade de códigos de leitura, a autorreflexividade, a antinarrativa, o antipoema, o antidrama. Este simpósio se abre a maneiras de inteligibilidade do contemporâneo, da articulação entre a ausência, o silêncio, a antiforma, o rizoma, a diferença, a ironia, o palimpsesto, a força das representações em tempos de #ashtag, o demônio do mercado, o gozo estético, o fantasma do legado, a leveza e a agonia do que é “fluxo-floema” e deserto do real.

Palavras-chave: literatura, contemporâneo, (des)poéticas.