Patrícia Josiane Tavares da Cunha Fuza (UNESPAR)
Este minicurso objetiva discutir os diferentes ecos que impregnaram a produção poética brasileira da primeira metade do século XX, tendo em vista a iminência da Segunda Guerra Mundial, responsável por marcar indelevelmente o período. Sendo a literatura uma fonte e, ao mesmo tempo, uma produtora de memórias, visa analisar os diferentes enfrentamentos, por meio da palavra poética, das profundas transformações ocorridas na sociedade, capazes de gerar as mais distintas expressões poéticas. Transfigurando-se quer num eu subjetivo em primeira pessoa, quer num observador onisciente dos fatos, os poetas brasileiros, cada um a seu modo, fizeram de suas poesias verdadeiros catalisadores do rol de emoções várias que acometeu a humanidade no período. Assim, pretende reiterar o teor artístico próprio da produção literária como importante instrumento de representação e enfrentamento do real. Todos foram atingidos de algum modo. As notícias chegavam rapidamente, embora, inegavelmente, tenham passado por diferentes leituras até o cidadão/leitor comum. Tornou-se praticamente impossível distanciar-se do forte sentimento de impotência face à total desvalorização do “eu” e do “outro”. Diante desse contexto violento e amedrontador, como manter viva a esperança? Como voltar os olhos para o futuro diante da incerteza de sua concretização? Face às notícias das mortes em massa, dos genocídios, somados ao regime ditatorial instaurado no Brasil, restou ao homem a triste constatação de sua fragilidade e finitude, num contexto em que ele próprio encontrava-se naufragado em sua luta vã em busca de respostas para sua dura existência. Esse luto interminável gerou-lhe muito mais do que uma “ferida física”, mas um transbordamento de emoções como o medo, a angústia, o desespero, a melancolia, a incerteza e a desesperança. Por isso mesmo, coube às manifestações artísticas brasileiras da primeira metade do século XX – destacando aqui a produção poética – representarem suas impressões do período sombrio pelo qual passou a humanidade. Tais acontecimentos, ligados à atmosfera de medo e incerteza proveniente do contexto político e social brasileiro, uniram macro e microcosmos, transformando a dor daqueles aparentemente distantes em uma dor coletiva; foi como se os poetas brasileiros da primeira metade do século XX se deslocassem do posto de meros observadores da História ao de empática e solidária plateia da vivência de dor que acometeu a humanidade no período, num processo catártico profundo capaz de gerar diferentes representações do medo, da angústia, da morte e (por que não?!) da esperança. Todos foram impactados pelos horrores da guerra, o que faz de parte dessa produção poética um canto de dor, uma espécie de elegia em nada heroicizante; pelo contrário, uma elegia da devastação. No entanto, foi muitas vezes partindo desse caos inicial que muitos poetas brasileiros reorganizaram a memória, imortalizando o período para que o Brasil e o mundo o tivessem como o símbolo indelével da intolerância e da crueldade humanas.
Palavras-chave: poesia, guerra, enfrentamento.