CLARICE LISPECTOR E O MATERIALISMO LACANIANO: UM DIÁLOGO POSSÍVEL

Diego Luiz Miiller Fascina (UEM)

Thays Pretti de Sousa (UEM)

 

A obra de arte pode também ser reconhecida a partir de seu sentido escorregadio, que favorece inumeráveis interpretações possíveis, que não se anulam e que intensamente enriquecem a obra em questão. Tal efeito é o que reconhecidamente se dá com as obras de Clarice Lispector (1920-1977), sempre múltiplas em sentidos, nunca se fechando para uma nova possibilidade de olhar. Considerando o aporte teórico oferecido pelo materialismo lacaniano (também conhecido como lacanianismo), especialmente no que compete à filosofia do esloveno Slavoj Žižek (1949- ), este minicurso objetiva discutir uma nova ótica a partir da qual os textos literários – e, aqui, mais especificamente, os desta autora – podem ser analisados. Teremos, assim, como foco a maneira como diversas obras da supracitada autora ganham nova dimensão interpretativa a partir de conceitos trazidos por essa corrente teórica, uma vez que o aspecto subjetivo de muitos de seus trabalhos parece convidar o leitor-crítico a explicar certos aspectos composicionais e temáticos do texto da autora a partir dos conceitos lacanianistas. Apesar de inicialmente ligada à filosofia política, o filósofo projeta e articula seu pensamento em áreas que vão desde a filosofia, a psicanálise, a sociologia, o cinema, até a economia e a política, explorando temas tão variados quanto política internacional e religião, e a relação entre os tipos de vasos sanitários existentes na França, Alemanha e Estados Unidos. Para tal empreitada, a fonte teórica fundamental de Žižek é o trabalho de Lacan na psicanálise, o qual o filósofo associa a outras fontes, como Hegel e Marx, os quais são lidos seletivamente, gerando um sistema que, apesar das diversas influências, é próprio. Metodologicamente, sua proposta gira em torno da desconstrução do que parece óbvio, mostrando a possibilidade de outras relações e interpretações. Nesse sentido, observaremos conceitos utilizados por esse filósofo, tais como os de Real, Simbólico e Imaginário; objeto a; desejo e pulsão; ressimbolização; paixão pelo Real; neurose obsessiva; discurso da histérica (da teoria dos quatro discursos); entre outros; para mostrar como podem ser úteis para empreendermos novas leituras para os romances A maçã no escuro e A paixão segundo G.H., bem como de alguns contos de Laços de Família.

Palavras-chave: Clarice Lispector, materialismo lacaniano, crítica literária.