Adriele Gehring (UEM/SEED)
Maiara Cristina Segato (UTFPR)
Com a finalidade de discutir o conceito de cultura, contrapondo “altas culturas” e “cultura como modo de vida”, a abordagem culturalista tem seu início com Hoggart, Williams e Thompson, no final dos anos 50, na Inglaterra. Ou seja, os Estudos Culturais nascem da necessidade de se combater um conceito dualista de cultura com “C” maiúsculo, que só reconhecia como tal as produções elitistas eruditas e, por conseguinte, excluíam desse conceito hegemônico as “culturas” tidas como menores, a cultura popular escrita com “c” minúsculo. A abertura crítica proposta pelos Estudos culturais possibilita um diálogo transcultural sustentado pela aceitação das diferenças, das pluralidades, das singularidades e das particularidades. Nesse contexto, instaura-se um campo de discussão teórica descentrada e consciente das diferenças que integram o cânone literário nacional. Assim, o centro começa a dar lugar às margens, visto que, em meados da década de 60, auge dos Estudos culturais e contexto histórico-cultural de eclosão do multiculturalismo, emergem vários movimentos de contestação na busca por um espaço, por uma autonomia, por uma identidade própria, questionando os valores conservadores impostos. A ampla revolução cultural abre espaço aos grupos marginalizados ou de minorias: femininos, negros e homossexuais. Essa efervescência multicultural contribuiu não só para dar visibilidade às vozes silenciadas ou consideradas dissonantes, mas também para questionar a formação do cânone literário. Desse modo, tanto no âmbito social quanto no literário a base é o reconhecimento do outro. Aspecto esse que implica na questão da identidade e diferença, tornando os dois termos correlativos, pois o sujeito não possui uma identidade una e fixa, mas um conjunto de traços diferenciais de acordo com os diversos contextos sociais e culturais em que está inserido, diante dessa “modernidade líquida”, termo empregado pelo sociólogo polonês Zigmunt Bauman para se referir a essa realidade multiforme, ambígua, marcada pela efemeridade, instabilidade, extrema individualização e desestruturação das relações. Portanto, o simpósio apresentado visa acolher pesquisas que contribuam com o debate em torno das identidades culturais na contemporaneidade, isto é, trabalhos que tratem de obras relacionadas à autoria de minorias étnicas e sexuais, como a literatura indígena, afro-brasileira, homoerótica (ou queer) e de autoria feminina.
Palavras-chave: estudos culturais, literatura de minorias, identidade e diferença.