O TEXTO/ENUNCIADO LITERÁRIO SOB ESCOPO TOTAL OU PARCIAL DA TEORIA BAKHTINIANA

Adriana Delmira Mendes Polato (UNESPAR/UEM)

Célia Tamara Coêlho (UEM)

 

Na acepção do Círculo de Bakhtin (BAKHTIN, 1988; 2003; 2008; 2013, 2014, BAKHTIN/VOLOCHINOV, 2006; VOLOCHINOV/BAKHTIN, 1926), a compreensão do funcionamento do discurso multifacetado passa pela compreensão do que diz respeito à estética de sua construção social. As questões estéticas são tratadas pelo Círculo de Bakhtin para elucidar que há uma relação entre acabamento, valoração, recepção e resposta. Essa discussão se dá a partir do estreito fio que liga a criação artística e literária à linguística, quando o Círculo estabelece, não gratuitamente, uma analogia para aproximar, principalmente, a arte verbal (a literatura) do funcionamento real da língua em situações comuns de interação verbal. Esse percurso foi necessário para que se desvelasse todo processo valorativo e, portanto, dialógico, que integra a produção e a recepção de qualquer enunciado, visto esse processo se apresentar mais veemente na arte literária. É na arte que o homem se mostra (locutor e interlocutor) mais livre e não no contrato, por exemplo. Por isso, o interesse do Círculo em analisar produções literárias ou avançar no diálogo com as teorias que sustentam a sua análise. Em consideração a isso, esse simpósio acolhe análises de textos de natureza literária, como romances, contos, fábulas, crônicas, poemas, poesias, que se valham do escopo total ou parcial da teoria bakhtiniana para sua sustentação. Ainda, no que se refere ao processo de ensino e aprendizagem da língua/linguagem, o simpósio acolhe propostas de leitura, análise linguística ou produção textual escrita que tenham textos/enunciados literários como objetos. Desse lugar, enfatizamos o princípio dialógico como integrante da atividade de criação autoral na literatura, por ser capaz de movimentar valores sociais a partir do já dito, da nova orientação do dizer e do que é internamente dialogizado pelo autor, sendo a literatura campo fecundo que se assenta em “valorações sociais constantes e estáveis da vida e em avaliações sociais substantivas e fundamentais” (MENEGASSI; CAVALCANTI, 2013), geralmente de cunho mais perdurativo ou existencial. Desse modo, o texto/enunciado literário se mostra menos dependente do contexto pragmático imediato de sua produção, porque as valorações podem abarcar mesmo séculos de uma cultura, o que lhe confere um estatuto atemporal. Interessa-nos, portanto, dialogar sobre análises que compreendam, principalmente, a constituição  do estilo verbal do enunciado,  já consubstanciado pelas valorações da forma, como lugar das próprias relações sociais e do trabalho cognitivo e ético da autoria (BAKHTIN, 1988), por ser sócio-individual e refletir as axiologias compartilhadas na interação autor/criador-interlocutor-tema (VOLOCHINOV/BAKHTIN, 1926), inerentes à situação social e histórica ampla e imediata da interação (BAKHTIN/VOLOCHINOV, 2006; VOLOCHINOV/BAKHTIN, 1926; BAKHTIN, 2014). Assim, compreendemos que essa abordagem pode se estender à tomada do texto literário para as situações de ensino e aprendizagem da língua/linguagem.

Palavras-Chave: texto literário, teoria bakhtiniana, propostas de análise ou ensino.